Dário Teixeira Cotrim
Membro da Academia Montes-clarense de Letras e dos Institutos Histórico e Geográfico de Montes Claros (MG), de Feira de Santana (BA) e da Bahia. Dário também é sócio correspondente da Academia Caetiteense de Letras.
O CHEFE HORÁCIO DE MATOS
O livro O Chefe Horácio de Matos, do escritor Américo Chagas está entre as melhores obras sobre o coronelismo baiano. Sabe-se que durante o governo de Arthur Bernardes, o fenômeno “coronelismo” se espalhou pelo território brasileiro, produzindo abusos e todas as formas de corrupção e abusos de poder. O livro O Chefe Horácio de Matos foi escrito por um médico do sertão baiano e trata-se de uma biografia do maior e mais temido chefe político: Horácio de Queirós Matos. O prefaciador da obra, doutor Luís Washington Vita, disse com muita propriedade que “se o autor engalana seu personagem de uma auréola de heroísmo e espírito de luta. Nem por isso deixa de reconhecer, nas estre linhas, que se trata de um vulto egrégio de um passado que está morto e bem morto, enterrado e bem enterrado”.
Pode o passado de Horácio de Matos está morto e enterrado, mas a sua história de vida e lutas durante o período da Coluna Prestes, está mais viva do que nunca. Descontado os abusos dos legalistas quase nada sobra de positivo para ser acrescentado nos livros de história. Entretanto, a saga vitoriosa do versátil Horácio de Matos coube a Américo Chagas, esculápio no sertão das Lavras, foi a pessoa indicada para cometer o tentame. E assim a história foi feita!
A narrativa de Américo Chagas é direta e não há excesso de adjetivos. Os fatos são contados de forma bastante simples, deixando o leitor na vanguarda dos entendimentos e ao mesmo fazendo com que ele se interessa mais e mais dos fatos narrados. Não é a história da Coluna Prestes. Não é a saga dos revoltosos. Não é o aparato dos legalistas. É tão somente os episódios mais significativos da participação honrosa do coronel Horácio de Matos no movimento revolucionário brasileiro.
No capítulo XXVII – A ROMARIA, ali é registrada, com fotografia, um dos momentos mais importantes para a história do sudoeste baiano. No grupo de delegados – os romeiros – organizado pela Delegacia Regional de 12 municípios, faziam parte o delegado Regional, coronel Horácio de Queirós Matos, sua esposa e o Dr. J.J. Seabra, governador da Bahia. Nesta mesma ocasião o major Antônio Othon Teixeira, que era delegado e chefe político do Distrito de Paz do Gentio (Guanambi – Bahia) também marcou presença nas festividades religiosas de Bom Jesus da Lapa.
No decorrer da narrativa, Américo Chagas nos apresenta uma síntese da vida política de Horácio de Matos. Na sequência de sua escrita “traça o autor neste livro o quadro das lutas sertanejas na paisagem agreste do interior baiano entre 1912 e 1930”. Em razão disso disse nos Maurício Tragtemberg que “é digno, pois, do nosso encômio o escritor Américo Chagas, autor de O Chefe Horácio de Matos, por haver trazido a lume essa epopeia sertaneja, de profundo alcance histórico e sociológico, que vale por uma autêntica tese de doutoramento”. Américo Chagas era médico. Escreveu, ainda, os livros: “Brasílica” (seleta de poesia), “Montalvão” (cangaceiro nobre que atuou nos sertões da Bahia em fins do século XIX) além de outros títulos. Ele faleceu no ano de 1975.