Sertão Hoje

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Colunistas

Dário Teixeira Cotrim

Membro da Academia Montes-clarense de Letras e dos Institutos Histórico e Geográfico de Montes Claros (MG), de Feira de Santana (BA) e da Bahia. Dário também é sócio correspondente da Academia Caetiteense de Letras.

RAZÃO E EMOÇÃO

Foi com muita alegria que iniciamos a leitura do livro de poemas Razão & Emoção, do irrequieto poeta baiano, o jovem Sebastião Santos Silva. O livro traz na sua capa, propositadamente, a figura d’O Pensador, de autoria do escultor francês Auguste Rodin (1840-1917), que representa com a riqueza inquestionável, na sua belíssima obra, a figura humana carregada de sincera preocupação e profunda reflexão sobre o futuro das coisas e dos fatos. Pois, este é o pensamento do autor de Razão & Emoção, que teve que arrostar para si os temas polêmicos da sociedade brasileira. A poesia, neste caso, é o caminho mais coerente, onde o autor mostra ter a coragem suficiente e a sensibilidade à flor da pele para se posicionar na defesa do seu povo e de sua terra: o poema Rio Verde Grande ilustra muito bem essa qualidade excepcional do autor. 

Razão & Emoção é uma bela coletânea de poemas. Todos eles de uma simplicidade a que não estamos habituados nos tempos mais recentes. Por outro lado, todos nós sentimos ser comuníssimos procurarmos nas palavras de um poema as idéias, não só da lógica, mas da razão e da emoção de que tanto necessitamos. Os poemas de Sebastião Santos não se prendem a nenhuma regra ou escola literária. Eles são construídos com palavras soltas no tempo e revoltas no espaço, onde o compromisso principal é com a mensagem republicana e cristã. Não obstante a tudo isso, o autor usa a forma clássica do soneto para dizer que o Samba não Samba. Ora, “nem tudo está perdido, nem tudo é perdição, a escola da falia é a escola do folião”. Aqui, o soneto mostra-se adorável de graça e de beleza, deixando de ser acadêmico – camoniano – para tornar-se encantador!

Escrever poemas pode nos parecer muito fácil. Mas não é não. O encanto do poema Beija a Flor, por exemplo, somente poetas que demonstram certas intimidades com o domínio de seus versos, é que podem elaborar versos dessa qualidade. Há no seu livro Razão & Emoção um poema de uma única palavra – e sem meias palavras – até um outro parodiado o Hino Nacional. Ainda assim, a forma do dístico no poema Vida, raramente usada pelos poetas iniciantes, é aqui apresentada com requinte de beleza e de suave musicalidade. São palavras emparelhadas que traduzem a sede criativa do autor e a sua luta pela visão moderna do mundo atual.

Nota-se bem que o autor nos leva ao mundo imaginário das letras e dos números. O poeta visual Hugo Pontes costumava dizer que a ousadia da experimentação poética não estacionou no Concretismo. As experiências prosseguiram e continuam até os nossos dias com resultados surpreendentes. Portanto, o poema A 4RT3 D4 35CRIT4 reflete o que disse Pontes com fidelidade a visualização das imagens e dos números, e muito bem explorados aqui para a realização deste trabalho literário com as letras. Em consonância com a nossa afirmativa, ilustraremos este proêmio com a forma triangular em Declaração e, também, com a forma transliterada do alfabeto grego em Hospital no Céu. A trova Relíquia tem a música eterna da natureza e da vida!

Em Razão & Emoção, que encaixa em si muitos de seus versos mais significativos, Sebastião Santos Silva oferece-nos, como presente, um belíssimo álbum literário que se distingue pela modernidade da escrita e, outrossim, pela beleza da arte gráfica. Com a imagem do Pensador, caracterizando assim o grande poder sugestivo de que o autor sonhava durante toda a concepção de sua influente obra, nós podemos nos emocionar com a certeza poética existente em Razão & Emoção. E para arrematar esta despretensiosa apresentação, vamos utilizar das palavras do autor, com a sua permissão, evidentemente, para tal e qual nos disse ele que “tudo se acaba, menos os artistas, eles não perecem, eternizam nas suas obras”. Isso é bem verdade!