Sertão Hoje

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Vitor Hugo Lima da Silva

Vitor Hugo Lima da Silva é médico, clínico geral, formado em 2001 pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente, reside em Ituaçu, onde trabalha como médico concursado no Programa Saúde da Família (PSF) e também em uma clínica particular (Fisioclem), de sua propriedade.

Sobre o Universo

Ao começar escrever estas linhas, olho pela janela do meu décimo andar e vejo lá fora carros minguados, madrugada estiada; olho para o céu, vejo nuvens a ameaçar novas quedas-d’água. Olho para dentro, vejo a TV, a estante, o relógio – duas da madrugada – e penso: “O que faço aqui no mundo, o que todos nós fazemos, qual a função da existência do Universo, da vida, de tudo que existe?” Não sei te responder, mas também não posso te apontar quem o saiba. É algo inexplicável, que nem a religião com toda a sua fé (ou antes prevenção para uma possível eventualidade após a morte) nem os cientistas com todas as suas parafernálias a apontar para o céu, sabem explicar. Para o penso e quanto mais penso menos sei, dada a complexidade do Universo.

Não sabemos, apenas deduzimos, através de algumas observações e cálculos, que o Universo teve um início, em épocas remotas do passado.

A religião, com seu dogma inexorável, com toda a certeza do mundo, nos ensina, com ar professoral: “quem criou tudo isto que vemos ao nosso redor foi Deus”. Mas quando indagamos sobre de onde esse Deus surgiu, ela nos vem com outra resposta: “Deus sempre existiu”. Então penso: “se tudo ocorre como diz a religião, que Deus é infinito no espaço e no tempo, visto que Ele é onipresente e onipotente, e tendo por certo que tempo e espaço estão impregnados no Universo, fazendo inclusive parte da composição deste, então somos em suas mãos meros brinquedos, os quais Ele criou para algum objetivo alheio a nós, escuso, pois como ele é infinito tanto temporal como espacialmente, o que com nós ocorrer aqui na Terra não afetará em nada a sua existência, tamanha a pequenez de nosso planeta, frente a um todo tão grande (o Universo), impregnado por completo por este tal de Deus (onipresente), afirmam os religiosos”.

Há outra questão a ser discutida: se Deus criou o Universo, Ele não pode ter existido desde sempre, pois o tempo é algo inerente ao Universo, faz parte deste, assim como o espaço, a energia, o movimento, o calor, etc. E isto nos faz retornar à questão: Se Deus existe ele teve um começo, logo, foi criado; mas a partir de que? Aqui nem vou cogitar a possibilidade desta criação religiosa não fazer parte do Universo, única explicação que daria ainda mais algum fôlego às teorias que afirmam uma possível existência desta entidade. E de quebra ainda ampliaria a definição do que é o Universo, expandindo-o ainda mais e transformando-o em um “multiverso”.

Já a ciência nos vem com outra história. Nos mostra, através de várias teorias, que o Universo foi criado em um momento quando houve uma grande explosão e neste momento foi criada a matéria e o espaço-tempo. Mas podemos nos perguntar, aprofundando ainda mais na questão: “e antes desta explosão o que existia?” Diz a ciência que era algo extremamente caótico, difícil de imaginar, como muita energia a borbulhar, formando ilhas de matérias aqui e ali, que desapareciam tão logo eram criadas. Que a partir de uma destas ilhas de matéria, a qual por algum motivo não se desmanchou, tudo começou. Podemos novamente indagar de onde veio esta energia. Então a ciência não poderia responder, até criar uma nova teoria, a qual faria surgirem outras perguntas. Aqui entra a religião, como boa oportunista que é, se lançando na questão e dizendo majestosamente: “Deus teria sido esta energia inicial”. Levando em conta esta resposta da religião (como sempre, a religião não seria racional o suficiente para perceber que nova pergunta seria feita e que ela não saberia responder e ficaria na espreita de outra oportunidade para se aproveitar novamente dos fatos), ainda assim não haveria uma resposta sobre de onde veio a tal energia.

Olho de volta para o céu e vejo as nuvens se formando para chover. Volto novamente os olhos para o papel e, principalmente, para dentro de mim e lá no fundo, nos mais íntimos e ínfimos neurônios, vejo a única resposta a ser dada a tal questão: Este Deus da religião não existe. Esta entidade sobrenatural não se encaixa em nenhum questionamento mais apurado a respeito de algo tão simples como o seu próprio surgimento. Resta concluir que este Deus que idolatram é o próprio Universo e tudo que nele existe, o vácuo, a matéria, as leis da física e também nós, somos uma pequena parte deste Deus, ou seja, do Universo. Fiquemos então cientes que o Universo não foi criado e nem é regido por ninguém, físico ou sobrenatural. Simplesmente, ao acaso e partindo de um início inexplicável (quem disse que no Universo tudo tem que ter uma resposta!?), tudo passou a existir. Contentemos com esta resposta e foquemos em melhorar nossas vidas e nossa estadia aqui!