Sertão Hoje

Sertão Hoje

Colunistas

Fabiano Cotrim

É professor e advogado do escritório "Cotrim, Cunha & Freire, Advogados Associados", em Caetité. Membro da Academia Caetiteense de Letras (cadeira Luís Cotrim), Mano, como é conhecido, gosta mesmo é de escrever poesias, mas, desde os tempos de Maurício Lima, então batucando na sua velha Olivetti Lettera 32, colabora com o Jornal Tribuna do Sertão, sempre nos mandando crônicas.

Há crise?

Amigos, amigas, reparem só que coisa. Há situações em que uma desculpa funciona, mas em outras vezes, em outras situações, não. Explico. A palavra crise, por exemplo, no âmbito das nossas relações mais próximas, uns com os outros, comendo sal juntos, de nada vale para justificar falhas, faltas. Ou se um filho chegar para um pai e dizer pai tenho fome, vai adiantar de nada o pai responder que não tem comida, que tem crise?

E se a vendedora da loja lhe entregasse uma camisa visivelmente tamanho P e você reclamasse, dizendo que veste G e ela lhe dissesse, ah, é a crise, agora o G é desse tamanho mesmo e GG custa o dobro. E se o atacante de um grande time, digamos, o Vascão, chegasse para o técnico, depois de perder o gol mais feito da vida, e se desculpasse com o treinador dizendo, desculpa aí, professor, é a crise. Funcionaria?

E se a mulher dissesse ao marido, querido já faz mais de ano que nós não... pode parar, diria logo o marido, pode parar, você sabe, meu bem, é a crise. E se isto, e se aquilo, e você justificasse alegando que é a crise, funcionaria? É claro que não, e todo mundo sabe disto. Menos o Governo. Aí a coisa muda, aí a palavra crise funciona que é uma beleza e até sem perceber, eu, você, nos conformamos e seguimos como se tudo estivesse explicado, como se a crise alegada justificasse tudo.

Vejam: a fila do SUS, o preço do feijão, a insegurança pública, o preço da gasolina, o arroxo no salário, a fila do desemprego, a fome, a falta d’água, do saneamento, tudo o que é de ruim que há no mundo, o Governo justifica, explica, presta contas, simplesmente dizendo, é a crise. E funciona. O pior é que funciona. Agora mesmo, reformaram a Previdência, acabaram com muitos direitos trabalhistas, ameaçam outras maldades e qual é a explicação? Ou é isso, ou é a crise...

Pois bem, a tal crise que o Governo nos apresenta como pano de fundo das nossas misérias até que nós a sentimos mesmo, e dói, e até nos mata. Agora, que olhando certas coisas tudo isto se revela uma farsa, lá isto também é.

Vejam esses dados: O nosso presidente capitão gastou ainda há pouco mais de R$ 200.00,00 (duzentos mil reais) apenas para assistir a três partidas de futebol, uma pancada de mais de R$ 67.000,00 (sessenta e sete mil reais) por jogo.

E essa então? De janeiro a julho deste ano autoridades federais fizeram 727 voos em aviões oficiais, destes, 122 atenderam ao Presidente da Câmara de Deputados, o Rodrigo Maia. A distância percorrida por todos voos das excelências foi de novecentos e quarenta e sete mil quilômetros, o que daria para dar 24 voltas em torno da terra.

E é tudo na base do zero oitocentos para eles, avião, comidinhas de luxo, servidores até para lhes assoar o nariz, e por aí vai. Para nós outros, os pagadores de impostos? Ora, há crise, meu amigo, há crise...