Sertão Hoje

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Colunistas

Fabiano Cotrim

É professor e advogado do escritório "Cotrim, Cunha & Freire, Advogados Associados", em Caetité. Membro da Academia Caetiteense de Letras (cadeira Luís Cotrim), Mano, como é conhecido, gosta mesmo é de escrever poesias, mas, desde os tempos de Maurício Lima, então batucando na sua velha Olivetti Lettera 32, colabora com o Jornal Tribuna do Sertão, sempre nos mandando crônicas.

Vai chover e não tem lenha!

Ouvi muito na minha infância a minha avó dizer em tom de admoestação, conselho, o seguinte ditado: “vai chover e não tem lenha!”. Como na casa da minha infância todo santo dia se cozinhava com lenha, quase sempre ela, a minha avó, queria dizer exatamente isto, que a chuva estava próxima e que ainda não se havia providenciado lenha seca para enfrentar o período chuvoso.

Deu-se então que, vendo a chuva cair nesses dias que passam e dão conta da chegada de dois mil e vinte, fiquei pensando nisto. Vai chover e não tem lenha. Contudo, tanto o cair da chuva propicia divagações que ao pensar nisto eu pensava naquilo, isto é, não pensava em lenha e chuva, mas em água e chuva. Entenderam...? Não...? Explico.

As minhas lembranças do velho ditado me levaram a outro ponto, a um modo novo de dizê-lo, um modo próprio de nós, caetiteenses, que vivemos para ver esse dia chegar, resumir a nossa atual condição: vai chover e não tem água é o que agora dizemos com absoluta propriedade. Ou, por outra, ainda podemos dizer que vai chover e vamos continuar sem água. Entenderam agora? O ditado antigo renovou-se e por mais que chova nessa terra de meus Deus isto não significa que teremos a nossa própria água para beber, mesmo depois de cheios todos os reservatórios.

As chuvas irão, virão arco-íris, campos floridos, mas aqui, nesta cidade do Caetité moldada pelos séculos e séculos, a água de beber virá do bondoso, mas combalido, Rio São Francisco. E faltará água em um momento ou outro; basta um problema mecânico no sistema que suga a água do Velho Chico até as nossas bicas e ficaremos na seca e na amargura.

Apois, enquanto vejo cair dos céus a bebida pura e fresca e ouço, de onde estou, até mesmo o rumorejo da água que corre como se ainda fosse um rio o Alegre que teima em reviver toda vez que chove assim, é o que me ocorre dizer : vai chover e não tem lenha...