Sertão Hoje

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Fabiano Cotrim

É professor e advogado do escritório "Cotrim, Cunha & Freire, Advogados Associados", em Caetité. Membro da Academia Caetiteense de Letras (cadeira Luís Cotrim), Mano, como é conhecido, gosta mesmo é de escrever poesias, mas, desde os tempos de Maurício Lima, então batucando na sua velha Olivetti Lettera 32, colabora com o Jornal Tribuna do Sertão, sempre nos mandando crônicas.

O bacalhal, com l.

Já que o momento é de reviver Caetité, de lavagem e cortejos, deixa eu também entrar no clima e lhes contar uma história pitoresca havida há muitos anos quando a novidade por aqui era a inauguração de uma loja de já extinta rede de supermercados sediada em Vitória da Conquista, chamada Superlar. Ficava ali na Avenida Santana, onde agora funciona o Supermercado Brindes.

Pois bem, lá estava eu e muito mais gente praticando a boa e velha tabaroice, encantados com toda aquela modernidade de prateleiras abarrotadas, carrinhos para as compras, caixas, empacotadores, essas coisas. Era Páscoa, bem me lembro, era Páscoa, pois os produtos típicos da época estavam expostos em destaque, anunciados naqueles cartazes amarelos berrantes e em letras vermelhas a palavrinha mágica: promoção!

Foi nesse cenário, numa manhã qualquer perdida no tempo que ouvi a Professora Nena Chaves, de memória saudosa e presença de espírito idem, dizer: podem comer o bacalhau, mas não assassinem a Gramática! Disse o que disse Dona Nena, de um jeito próprio que só ela tinha de dizer, o que posso reviver agora em suas minúcias, e saiu altiva pelos corredores do Superlar. Fui conferir e lá estava, bacalhal, com l.

Não tardou e a rede de supermercado faliu. E agora lembrei por que em verdade comecei essa história. É que esses dias mesmo, passando ali pela Serra do Marçal, de novo vi a lição de Dona Nena sendo testada, e aprovada. De um lado e do outro da estrada, um defronte ao outro, lojas de pamonha e mingau de milho, e outras delícias, mas o carro chefe, o que está no letreiro é isto: pamonha e mingau de milho.

Uma das lojas, a que escreve na placa mingau, com u, como deve ser, vive lotada. A outra, em cujo letreiro se lê mingal, com l, tal e qual o bacalhal, com l do finado Superlar, quando deveria ser com u, e que incomodou Dona Nena, vive ás moscas, sem vivalma que lhes consuma pamonhas e mingaus, mesmo eles sendo, todas sabem, comida de alma.

Era isso que eu tinha para contar, e quem quiser que conte outra....