Sertão Hoje

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Fabiano Cotrim

É professor e advogado do escritório "Cotrim, Cunha & Freire, Advogados Associados", em Caetité. Membro da Academia Caetiteense de Letras (cadeira Luís Cotrim), Mano, como é conhecido, gosta mesmo é de escrever poesias, mas, desde os tempos de Maurício Lima, então batucando na sua velha Olivetti Lettera 32, colabora com o Jornal Tribuna do Sertão, sempre nos mandando crônicas.

A esperança que falta

Sinto informar caríssima leitora, leitor estimado, mas o negócio tá feio e o seu nome tá no meio. Ou não tá e aí é que tá. Sei lá... O que sei é o que vi e ouvi e foi feio de ver, ruim de ouvir. As vacinas chegaram. Poucas. Pouquíssimas. E o que fizeram os governos além de espetáculos que encheram as telas de braços agulhados?

O Federal, além de trapalhadas malignas e mortais antes das doses salvadoras serem conseguidas, não cuidou de organizar um cadastro e um sistema nacional de prioridades na aplicação das raríssimas doses que viraram nosso maior objeto de desejo. Delegou aos municípios o poder de vacinar quem se incluísse em critérios frouxos, e deu no que deu...

Parênteses para dizer que apesar da beleza das cenas, a primeira pessoa vacinada aqui e acolá, o que assistimos agora não é bem uma vacinação, mas sim a absoluta falta de vacinas. Vacinação todos nós sabemos o que é e como funciona e faz tempo que é assim. Agora, o que assistimos é o horror da falta de vacinas, da falta de um governo digno do nome, e mais nada.

Prefeitos despreparados, recém empossados, deram prova de incompetência e desonestidade, e a ação toda refletiu o que se vê ultimamente em Brasília, isto é, desrespeito total pela saúde pública, pela vida da gente. Secretários e afins viram-se com o poder de salvar-se, de salvar os seus, e partiram para o crime como se fossem para uma festa. Até teve desses que vestiu roupa de domingo, fez pose e exibiu a imagem daquele ato infame como se troféu fosse.

Surgiram assim os desprezíveis fura-fila, sendo que mesmo alguns Prefeitos puxaram o indigno cordão. E lá foram madames e jovens felizes e contentes tomar a sua Corona, enquanto muita gente legitimamente integrantes de listas prioritárias até agora está por aí de mangas dobradas, o braço em posição de furo, aguardando a picada que não veio e nem se sabe se e quando virá.

Um passarinho me contou que uma determinada pessoa dessas que furou a fila com gosto, dizia com cinismo e sorrindo: “Vacina pouca, meu bracim primeiro”. Não duvido. E teve gente que chegou aos postos de vacinação mancando de uma perna, coluna encolhida, bengala até, para parecer mais velho, para parecer outra pessoa. Não duvido...

As justificativas dadas pelos furões foram as mais variadas e mais descaradas. Ficou famoso o prefeito que disse ter feito o que fez para dar exemplo, e em todo canto do país os exemplos iguais aos dele se multiplicam e, assim, fica evidente que a pandemia não nos ensinou do mundo nada. Continuamos a ser humanos, só que piores ainda do que antes dessa peste nos atingir. Infelizmente.