Sertão Hoje

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Colunistas

Fabiano Cotrim

É professor e advogado do escritório "Cotrim, Cunha & Freire, Advogados Associados", em Caetité. Membro da Academia Caetiteense de Letras (cadeira Luís Cotrim), Mano, como é conhecido, gosta mesmo é de escrever poesias, mas, desde os tempos de Maurício Lima, então batucando na sua velha Olivetti Lettera 32, colabora com o Jornal Tribuna do Sertão, sempre nos mandando crônicas.

Morreu a poeta Elvira Tânia Lopes Martins?

“Morreu a poeta Elvira Tânia Lopes Martins...” costume local, o carro de som fazia o anúncio fúnebre. Pelas ruas todas todos ficaram então sabendo que uma poeta havia morrido, o que é triste por si só, mas também diz muito, e diz bem, da cidade que ainda chora a morte de alguém conhecido, agora para sempre, por ser poeta.

Esta era a distinção daquele anúncio que para nós, caetiteenses, é coisa habitual. Quem nos deixou mereceu o título incomum, reservado a poucos, era poeta, era a poeta Elvira Tânia Lopes Martins. Fundadora da nossa Academia de Letras, ativista da palavra lavrada em sangue, em cores, em flores, em amores.

Outro poeta daqui, igualmente acadêmico como a nossa Taninha que partiu, o amigo Fábio Silveira, abomina o costume do carro de anúncios fúnebres. Acha de mau gosto e externa não querer ser assim matraqueado post mortem.

Contudo, prezado e certamente consternado confrade, veja que a nossa amiga já saudosa conseguiu ornar até mesmo esta cena tão peculiar com poesia. Morreu a poeta, dizia o som que saia do carro e a sensação que tive ao ouvir foi como a de ler um poema dos mais cortantes de Tânia Martins. Palavras definitivas, morreu a poeta, mas que dão margem a infinitos modo de entendê-las, infinitas sensações, sentimentos...

Morre uma poeta como Tânia? Sendo poeta no nível tão alto como ela era, os seus versos não são ela própria desfeita em fonemas, grafemas, poemas? O carro mesmo, ao dizer morreu a poeta Elvira Tânia Lopes Martins, não a tornava para sempre impregnada na própria cidade, no seu corpo físico, agora em imortais ondas sonoras?

É certo, eu sei, é dolorosamente certo que os seus parentes, os seus amigos, os seus admiradores não mais a verão por aí fazendo versos; não mais a tocarão os seus queridos sobrinhos, irmãos, mãe; não mais olhos nos olhos naqueles olhos que ela tinha para ver o mundo nos seus ângulos mais profundos e traduzi-los em pétalas de elegância e estilo.

Entretanto, e eis a glória desta poeta que tão cedo nos deixa, a sua herança é infinita. Leiamos a poesia de Tânia e teremos o melhor de Tânia conosco, sempre. Ela não se foi, pois. Não inteiramente, não para sempre.

O carro de som não mente completamente, de fato, e para nossa mais profunda tristeza, morreu a poeta Elvira Tânia Lopes Martins, mas é que poetas não vivem no mundo de fato, poetas vivem para sempre na imaginação da gente...