Sertão Hoje

Sertão Hoje

Colunistas

Moacir Saraiva

Professor do IFBA/Valença - Escritor e Acadêmico da Academia Valenciana de Educação, Letras e Artes Email: saraiva40@hotmail.com

“TENHO UM CHOCOLATE PARA VOCÊ.”

O rapaz muito tímido, poucos amigos, poucas palavras, saia pouco de casa para diversões, mas isso não o impedia de ter suas paixões, apesar de serem amores platônicos as cultivava com muito carinho e uma fecunda imaginação, embora não tivesse coragem para manifestar esse amor, pelo menos, para externar à mulher amada esse sentimento bonito que ele nutria por ela.

Isso o fazia sofrer muito, uma vez que seus conhecidos e amigos, suas conhecidas e amigas andavam de mãos dadas com namoradas e namorados e ele sozinho observava aquela alegria nos sorrisos, nos olhos desses amantes. Ele tinha sua paixão, conversava com ela, sentava ao lado dela, somente tratavam de assuntos alheios aos sentimentos, ele com uma vontade danada de também andar de mãos dadas com ela.

Ao sair desses encontros com a amada, ficava indignado porque não lhe chegava coragem para se declarar, menos ainda para pegar na mão da menina e olhá-la nos olhos e falar do que sentia por ela. Apesar dessa inquietude, ao deixá-la ele se refazia e sonhava que no próximo encontro tudo seria diferente, iria fazer igual aos amantes que andavam de mãos dadas, talvez esse fosse seu maior sonho de consumo, andar alegremente, brincando, às vezes, saltitando de braços dados com a amada.  Sonhar e devanear é possível, mesmo para os mais tímidos.

Um dia, comentou com uma amiga sobre seu grande amor e pediu conselhos para ganhar coragem. A amiga sabendo que a moça gostava muito de chocolate, disse para ele se aproximar dela, oferecendo algo nessa linha. Ele comprou um chocolate caro e foi aventurar ver a moça, pois ele sabia quais lugares que ela frequentava e se deslocou para lá.

Demorou encontrá-la e ao se deparar com a amada, ela estava conversando com um jovem que ele não conhecia e isso o deixou intrigado e já com um sentimento de ter perdido a menina para outro. Ficou olhando--a de longe, e ela conversando com o rapaz, mas sem nenhum sinal de maior intimidade. Ele observou que o rapaz tirou algo do bolso e deu para a menina. Diante disso, ele foi embora tomado de ciúmes. Apenas ciúmes sem nenhum dado concreto de que a moça estaria namorando o estranho.

No dia seguinte, lá vai ele com a iguaria no bolso frontal da calça e não demorou muito, viu a moça, que, estava sozinha, ele esperou que um pouco do tempo passasse, se concentrou e lá se foi para conquistar a amada. Após os ritos iniciais de aproximação entre duas pessoas que se conhecem, ele disse:

- Trouxe um chocolate para você.

Ela olhou nos olhos dele, sorriu, vibrou com a ideia e falou com doçura:

- Onde está?

O rapaz com um olhar de candura e de regozijo apontou com o dedo indicador para o bolso frontal da calça e quem olhava de fora, via que ele apontava para a virilha.

A moça ficou espantada com aquele gesto. E agora, de forma ríspida perguntou?

- Onde está o chocolate?

Ele novamente apontou para o bolso, deixando a moça mais espantada ainda. Ela disse, com um tom de desaforo:

- Respeite-me, rapaz.

O rapaz entendeu a besteira que fizera e se apressou em tirar o chocolate do bolso, e lentamente o levou até a mão da menina.

A menina sorriu, recebeu o chocolate e o abraçou.