Sertão Hoje

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Academia Caetiteense de Letras

Esta Coluna é produzida pelos integrantes da Academia Caetiteense de Letras (ACL) e os seus convidados e tem por objetivo compartilhar com o público discussões relevantes sobre temas da atualidade, sob a ótica acadêmica e literária.

Outras Vidas

Entrou no quarto escuro do seu coração e passou a remoer o passado, trazendo de volta suas dores, cheiros e cores como se acabassem de ser. Trouxe para si aquele exato instante em que as primeiras gotas de uma despretensiosa chuva de fim de tarde tocou-lhe as faces (ainda da mocidade). Eram tantos sonhos, tantos planos que não caberiam numa vida só. Por vezes, fingia ser artista, introspectiva, mas com vasto círculo de amigos excêntricos, daqueles que estão sempre abertos à subversão, à quebra das regras e dos limites sociais. Com eles conversaria em altas vozes e até se sentiria à vontade para confessar seus desejos mais profundos. Sono durante o dia e muitos, muitos encontros noturnos, até fecharem-se as portas, até expulsarem a todos a aurora. Falar com os companheiros sobre aquele novo escritor, que pela maioria não foi entendido, tampouco compreendido. Descobrir como suas ideias se assentam tão perfeitamente sobre o que pensam sobre a vida, sobre as pessoas e o futuro. Ter a límpida consciência de que ele somente será compreendido e aceito, com esperança, quando se findar esta e a próxima geração e que certamente morrerá à míngua, na sarjeta, porque não se rendeu à fogueira das vaidades acesa e alimentada pela chamada opinião pública. Outras vezes, imaginava-se um andarilho, cujos caminhos eram traçados no nascer de cada dia, sem régua, sem compasso, sem amarras nem companhia. Como parceiro apenas o vento. Afago somente do sol e da chuva. Certeza de cada dia: a fome. Desejo sem fim: andar, andar, andar... A estrada chama cedo, a sina começa sempre na madrugada. E lá se vai, andarilho, sem saber como tudo começou, sem esperar o dia em que tudo acabará. Da mesma forma se vai Marina, entre seus personas, em devaneio sem fim, vivendo a vida roubada de outros.

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N.R.- Desta feita, a coluna “O Silogeu” traz um texto de autoria da acadêmica Magda David, ocupante da “cadeira 40 – Camilo de Jesus Lima”, atualmente exercendo a Diretoria da Academia Caetiteense de Letras.Saiba mais sobre a ACL acessando https://pt.wikipedia.org/wiki/Academia_Caetiteense_de_Letras.