Sertão Hoje

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Ricardo Stumpf

Ricardo Stumpf é graduado em Arquitetura, com especialização em Desenho Urbano, Mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia e especialização em Lingüística: leitura e produção de textos pela Universidade do Estado da Bahia (2007).

Revoluções coloridas

Atualmente o objetivo do grupo de capitalistas que domina a economia ocidental é reduzir os direitos dos trabalhadores para aumentar seus lucros. Tentam isso através das urnas, financiando partidos políticos neoliberais, como o PSDB no Brasil, e quando não conseguem elegê-los não hesitam em provocar guerras e golpes de Estado, destruindo países inteiros, se for preciso, semeando o caos para impor a sua ordem.

Para enfrentar a reação às suas políticas antipopulares, o capital financeiro criou um projeto para derrubar governos, através das chamadas "revoluções coloridas", utilizando-se de ONGs, especialmente uma, denominada Canvas, (sigla em inglês para “CENTRO PARA CONFLITO E ESTRATÉGIAS NÃO-VIOLENTAS”) sediada na Sérvia, que promove revoltas contra governos que se opõem ao neoliberalismo.

Fundado por dois estudantes que lideraram a revolta que derrubou Slobodan Milosevic, na antiga Iugoslávia, no final da década de 1990, eles organizaram protestos criativos, marchas e atos que acabaram desestabilizando o regime, recebendo o apoio da OTAN, que bombardeou o país. Depois, reuniram suas experiências em manuais e começaram a dar aulas a grupos oposicionistas em diversos países sobre como se organizar para derrotar um governo.

Os Estados Unidos doam dinheiro para o Canvas, assim como alemães, franceses, espanhóis e italianos. Os americanos fazem isso através de várias ONGs, como a National Endowment for Democracy (NED), uma organização financiada pelo congresso americano, a Freedom  House e o International Republican Institute (IRI), ligado ao partido republicano – com financiamentos da USAID, a agência de desenvolvimento americana que promovia golpes militares na América Latina nos anos 60, inclusive no Brasil.

O IRI ministrou “cursos de treinamento político” para 600 líderes da oposição haitiana, entre 2002 e 2003, preparando o golpe contra o presidente eleito do Haiti Jean-Baptiste Aristide, em 2004. Na Venezuela, o NED enviou US$ 877 mil para grupos de oposição nos meses anteriores ao golpe de Estado fracassado em 2002, segundo revelou o New York Times. Na Bolívia, segundo documentos do governo americano obtidos pelo jornalista Jeremy Bigwood, a USAID manteve um  “Escritório para Iniciativas de Transição”, que investiu US$ 97 milhões em projetos de “descentralização e autonomias regionais” desde 2002, fortalecendo políticos que se opunham a Evo Morales.

A atuação do Canvas impressiona. Entre 2002 e 2009, realizou 106 workshops, alcançando 1800 participantes de 59 países, como Cuba, Venezuela, Bolívia, Zimbabue, Bielorrussia, Coreia do Norte, Siria e Irã.

Até 2009, o principal manual do grupo, “Luta não violenta – 50 pontos cruciais” já havia sido traduzido para cinco línguas, incluindo o árabe e o farsi.

Na Venezuela entraram em contato com ativistas e pessoas da oposição e os principais líderes com potencial para formarem uma coalizão eficiente , dentre eles, estudantes, a imprensa independente e internacional, sindicatos, a federação venezuelana de professores, o Rotary Club e a igreja católica.

Segundo líderes do próprio Canvas;

"Quando alguém pede a nossa ajuda, como é o caso da Venezuela, nós normalmente perguntamos: como você faria?  Nós apenas os guiamos e por isso o plano acaba sendo tão eficiente, pois são os ativistas que os criam, é totalmente deles, ou seja, é autêntico. Nós apenas fornecemos as ferramentas. No caso da Venezuela,os principais temas explorados são:

— Crime e falta de segurança: “A situação se deteriorou. Motivo para mudança”

— Educação: Os professores vão motivar os estudantes. Quem irá influenciá-los? Como nós vamos tocá-los?”

— Jovens: A mensagem precisa ser dirigida para os jovens em geral, não só para os estudantes universitários”.

— Economia: “O petróleo é da Venezuela, não do governo, é o seu dinheiro!"

— Mulheres: “O que as mães querem? Controle da lei, a polícia agindo sob as autoridades locais”.

— Transporte: “Trabalhadores precisam conseguir chegar aos seus empregos. É o seu dinheiro".

— Governo: “Redistribuição da riqueza, todos devem ter uma oportunidade”.

“Nós ensinamos as pessoas a analisarem e entenderem conflitos não-violentos – e durante o processo de aprendizagem pedimos aos participantes que utilizem as ferramentas que apresentamos no curso. Depois usamos o trabalho que eles realizaram e combinamos com informações públicas para criar estudos de caso. Isso é transformado em análises mais longas que compartilhamos com estudantes, ativistas, pesquisadores, professores, organizações e jornalistas com os quais cooperamos – que estão interessados em entender o fenômeno do poder popular”.

Basicamente o Canvas trabalha com duas coisas: a habilidade e o conhecimento necessário em subverter regimes e a necessidade de unificar a oposição.

A lista de "revoluções coloridas" que derrubaram ou tentaram derrubar governos já é extensa. Dentre elas estão a Sérvia em 2000, a Geórgia em 2003, a Ucrânia em2004, o Quirguistão em 2005,além do Egito, Venezuela, Líbia e Síria. Em alguns casos resultando em guerras civis, como na Líbia, Síria, Iêmen e Ucrânia.

No Brasil ajudaram a criar o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem pra Rua, que utilizando-se da reivindicação legítima dos paulistanos contra o aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus, iniciaram um ciclo de revoltas que culminou com o impeachment da presidente Dilma Roussef , com o apoio dos monopólios da mídia e dos setores neoliberais que hoje fazem parte do governo Temer.

Leia mais: http://www.anovaordemmundial.com/2011/06/falsas-revolucoes-coloridas-como.html#ixzz4cuX5jKI0