Covid-19: vacina chega para comunidades quilombolas da região de Vitória da Conquista

Segunda / 28.06.2021

Prioridade no calendário nacional de vacinação, mais de 4,2 mil quilombolas das cidades da microrregião estão vacinados com a primeira dose

A vacinação contra a Covid-19 chegou para os povos tradicionais quilombolas da região de Vitória da Conquista (BA). A região é formada pelos municípios de Vitória da Conquista, Anagé, Belo Campo, Caatiba, Poções, Bom Jesus da Serra, Mirante, Boa Nova e Nova Canaã, que juntos concentram mais de 16 mil pessoas autodeclaradas descendentes e remanescentes de escravizados, segundo o Instituto de Geografia e Estatísticas (IBGE). Entretanto, os dados oficiais do IBGE apresentam discrepância em relação aos dados informados pelas Secretarias Municipais de Saúde.

Em Belo Campo, por exemplo, o IBGE estima que tem uma população quilombola de 2.726 pessoas, mas a Secretaria Municipal de Saúde reconhece 50 quilombolas no município. Até o fechamento desta reportagem, 33 pessoas desse grupo prioritário tomaram a primeira dose da vacina e 27 receberam a dose de reforço do imunizante.

Em Vitória da Conquista, a 521 quilômetros de Salvador, mais de 65,5% dos quilombolas foram vacinados com a primeira dose, segundo o Ministério da Saúde. Esse número representa mais de 3,3 mil pessoas acima de 18 anos. Desde o início da pandemia, até a segunda semana de junho, foram registrados mais de 32 mil casos de infecção pelo vírus no município, com 539 óbitos.

No município de Anagé, 375 membros das três comunidades quilombolas foram vacinados com a primeira dose, segundo o Ministério da Saúde, o que representa 4% desse público, segundo o IBGE (8.429). Mas a Secretaria Municipal de Saúde reconhece apenas 486 quilombolas, o que elevaria o índice de vacinação para 76%, segundo o Ministério da Saúde. Sayma Oliveira, Diretora de Atenção Básica de Anagé, afirma que as vacinas que sobraram foram destinadas a outros grupos prioritários: “Isso aí foi um erro de cálculo do IBGE. O nosso levantamento atual foi feito com os representantes das comunidades quilombolas. Recebemos um número grande de vacinas. Conseguimos adiantar a vacinação no município, dos idosos, comorbidades, com esse mesmo lote. Atualizamos mediante a autorização da SESAB.”

Isaac Viana Souza, 20 anos, é um dos imunizados com a primeira dose da vacina, na cidade. O jovem nasceu no quilombo Lagoa Torta dos Pretos e foi criado pela mãe e avós lavradores. Dedicado aos estudos e aos movimentos sociais, Isaac é estudante de medicina na Universidade Federal da Bahia, em Vitória da Conquista, e secretário geral da Associação de agricultores rurais e quilombolas de Anagé.

Ao ser questionado sobre a vacinação nos quilombos, Isaac afirma que o município criou um calendário priorizando esse grupo, mas que muitos ainda não se vacinaram. Uns por medo, outros por não serem reconhecidos como quilombolas pela secretaria municipal e estadual de saúde. “A gente fez a estimativa. É um processo bem complexo porque a gente sabe que a vacinação fica a critério do estado e do município. Se a gente não tivesse corrido atrás, a vacinação teria demorado mais. Se vacinem. A única arma que a gente tem é a vacinação e as medidas de prevenção.”

PRIORIDADE QUILOMBOLAS - No Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19, divulgado em 16 de dezembro de 2020, grupos socialmente vulneráveis foram incluídos como prioridade no calendário de imunização. Entre eles, a população quilombola que vive em comunidades tradicionais e que, segundo o último levantamento realizado pelo IBGE, em 2019, representa mais de 1,3 milhão de brasileiros. Essa prioridade se faz necessária diante da falta de acesso desse público à saúde, já que grande parte vive em zonas rurais, afastadas do ambiente urbano. A Bahia é o maior estado brasileiro em população quilombola, com mais de 268 mil habitantes, de acordo com levantamento do IBGE de 2019. Para facilitar o enfrentamento da Covid-19 entre quilombolas e indígenas, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) antecipou a divulgação da base de informações geográficas e estatísticas sobre essa população em maio de 2020. O levantamento foi realizado em 2019.